Evidências da OHB para Fibromialgia

A fibromialgia (FM) é uma síndrome crônica que afeta aproximadamente 2-8% da população, sendo predominante em mulheres. 

Caracteriza-se por dor musculoesquelética difusa, fadiga, distúrbios do sono e comprometimento emocional. Considerada um protótipo da síndrome de sensibilização central, a FM envolve alterações no processamento da dor pelo sistema nervoso central (SNC). 

Apesar das opções terapêuticas convencionais, como medicamentos e terapia comportamental, os resultados são frequentemente insatisfatórios, exigindo abordagens inovadoras.

A oxigenoterapia hiperbárica (OHB) tem emergido como uma intervenção promissora. Baseada na administração de oxigênio a 100% em ambientes pressurizados, a OHB pode modular processos inflamatórios, promover neuroplasticidade e melhorar o funcionamento cerebral. 

Estudos recentes destacam seu potencial terapêutico na fibromialgia, conforme detalhado a seguir:

Estudo de Efrati et al. (2015): OHB na FM Geral 1

• Objetivo: Avaliar os efeitos da OHB em pacientes com FM.

• Métodos: Ensaio clínico prospectivo com 60 mulheres diagnosticadas com FM há pelo menos dois anos.

  • Protocolo de OHB: 40 sessões de 90 minutos, cinco dias por semana, com oxigênio a 100% a 2 atmosferas absolutas (ATA).

  • Avaliações: Contagem de pontos dolorosos, limiar de dor, questionários de qualidade de vida e análise de imagens cerebrais por SPECT.

• Resultados:

  • Redução significativa da dor e melhora na qualidade de vida.

  • Normalização da atividade cerebral em regiões relacionadas ao processamento da dor.

• Conclusão: A OHB não apenas aliviou os sintomas, mas também corrigiu disfunções cerebrais subjacentes, sugerindo um impacto profundo na patogênese da FM.

Estudo de Ablin et al. (2023): Comparação entre OHB e Intervenções Farmacológicas2

• Objetivo: Comparar a eficácia da OHB com pregabalina e duloxetina em pacientes com FM associada a trauma cranioencefálico (TCE).

• Métodos: Ensaio randomizado com 48 pacientes divididos em dois grupos (OHB e farmacológico).

  • Protocolo de OHB: 60 sessões de 90 minutos com oxigênio a 100% a 2 ATA.

  • Avaliações:

    • Desfechos primários: Redução da dor na Escala Visual Analógica (VAS).

    • Desfechos secundários: Limiar de dor, modulação condicionada da dor (CPM), e imagens cerebrais por SPECT.

• Resultados:

  • Redução significativa da dor no grupo OHB (p < 0,001).

  • Aumento da atividade cerebral no córtex frontal e temporal, correlacionado à melhora dos sintomas.

• Conclusão: A OHB mostrou-se mais eficaz que os medicamentos no alívio da dor e na modulação do SNC

Estudo de Curtis et al. (2021): Viabilidade e Segurança da OHB3

• Objetivo: Avaliar a viabilidade, segurança e eficácia da OHB em FM.

• Métodos: Estudo de coorte com 18 pacientes, randomizados em dois grupos:

  • Grupo de tratamento imediato: OHB por 8 semanas.

  • Grupo de tratamento tardio: OHB após 12 semanas.

  • Protocolo de OHB: 40 sessões, 5 dias por semana, com oxigênio a 100% a 2 ATA.

  • Avaliações:

    • Segurança: Monitoramento de eventos adversos.

    • Desfechos clínicos: Questionários de dor, ansiedade, depressão, qualidade do sono e fadiga.

• Resultados:

  • Viabilidade: Alta adesão e retenção.

  • Segurança: Eventos adversos leves, como barotrauma (17%) e miopia transitória (22%).

  • Eficácia: Melhora sustentada na qualidade do sono, redução de ansiedade e depressão, e alívio da dor por até 3 meses.

• Conclusão: A OHB é segura e viável, com benefícios clínicos significativos e sustentados no tempo.

Revisão Sistemática de Chen et al. (2023): Evidências Consolidadas4

• Objetivo: Revisar sistematicamente a eficácia e segurança da OHB na FM.

• Métodos:

  • Fontes de dados: Pesquisas em bases como PubMed, EMBASE e Cochrane Library até outubro de 2022.

  • Critérios de inclusão: Estudos clínicos randomizados e não randomizados sobre OHB para FM, com avaliação de desfechos como dor, fadiga, qualidade do sono e eventos adversos.

  • Participantes: 288 pacientes de nove estudos incluídos.

  • Protocolo de OHB: Sessões de 90 minutos, 100% de oxigênio, entre 1,45 e 2,5 atmosferas absolutas (ATA), 5 dias por semana.

• Resultados:

  • Redução significativa na dor medida pela Escala Visual Analógica e Índice de Dor Disseminada (SMD = -1,56; IC 95% [-2,18, -0,93]; p < 0,001).

  • Melhora nos pontos sensíveis, qualidade do sono, fadiga e função multidimensional em vários estudos.

  • Segurança: Eventos adversos leves, com menor incidência em protocolos de baixa pressão (<2,0 ATA).

  • Relatados em 23,8% dos pacientes, incluindo barotrauma leve (30 casos) e miopia transitória (4 casos).

  • Não foram registrados eventos adversos graves.

• Conclusão: A OHB é eficaz e segura, especialmente quando realizada em protocolos de baixa pressão, reforçando seu potencial no manejo da FM.

Síntese dos Resultados

1. Eficácia Clínica: A OHB demonstrou reduzir significativamente a dor e melhorar a qualidade de vida em todos os estudos analisados.

2. Neuroplasticidade: Alterações funcionais e estruturais no SNC foram observadas, destacando o impacto da OHB na modulação da dor e na função emocional.

3. Segurança e Viabilidade: Eventos adversos foram leves e controláveis, com alta adesão em estudos clínicos.

4. Protocolos Otimizados: Protocolos de baixa pressão (<2,0 ATA) mostraram-se mais seguros e eficazes.

Conclusão

A oxigenoterapia hiperbárica é uma intervenção promissora para o manejo da fibromialgia, oferecendo benefícios clínicos significativos e sustentados. Além de reduzir os sintomas, a terapia atua diretamente no SNC, promovendo neuroplasticidade e modulação do processamento da dor. Embora os resultados sejam encorajadores, estudos futuros devem ampliar as amostras e explorar os efeitos em longo prazo, consolidando a OHB como uma alternativa viável e eficaz no tratamento da fibromialgia.

Referências

1. Efrati S, Golan H, Bechor Y, Faran Y, Daphna-Tekoah S, Sekler G, Fishlev G, Ablin JN, Bergan J, Volkov O, Friedman M, Ben-Jacob E, Buskila D. Hyperbaric oxygen therapy can diminish fibromyalgia syndrome--prospective clinical trial. PLoS One. 2015 May 26;10(5):e0127012. doi: 10.1371/journal.pone.0127012. PMID: 26010952; PMCID: PMC4444341
   link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26010952/

2. Ablin JN, Lang E, Catalogna M, Aloush V, Hadanny A, Doenyas-Barak K, Finci S, Polak N, Fishlev G, Korin C, Tzidky RY, Meir Genuth O, Efrati S. Hyperbaric oxygen therapy compared to pharmacological intervention in fibromyalgia patients following traumatic brain injury: A randomized, controlled trial. PLoS One. 2023 Mar 10;18(3):e0282406. doi: 10.1371/journal.pone.0282406. PMID: 36897850; PMCID: PMC10004612
   link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36897850/

3. Curtis K, Katz J, Djaiani C, O'Leary G, Uehling J, Carroll J, Santa Mina D, Clarke H, Gofeld M, Katznelson R. Evaluation of a Hyperbaric Oxygen Therapy Intervention in Individuals with Fibromyalgia. Pain Med. 2021 Jun 4;22(6):1324-1332. doi: 10.1093/pm/pnaa416. PMID: 33594439.
   link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33594439/

4. Chen X, You J, Ma H, Zhou M, Huang C. Efficacy and safety of hyperbaric oxygen therapy for fibromyalgia: a systematic review and meta-analysis. BMJ Open. 2023 Jan 23;13(1):e062322. doi: 10.1136/bmjopen-2022-062322. PMID: 36690401; PMCID: PMC9872467.
   link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36690401/